“Só por hoje darei alta aos analistas, psicólogos, psiquiatras...”
Hoje eu queria fotografar minha tristeza.
Contei a ela, pedi que se preparasse para o retrato enquanto eu ia buscar a câmera. Quando voltei, ela havia se enfeitado. Colocou na cabeça alguns pêlos caídos do cachorro. Alisou o vestidinho roto, limpou a cara de um pouco da sujeira e pingou algumas gotas do meu perfume.
Encontrei-a ali no chão, forçando um sorrisinho e uma pose.
Tão velha, tão pequena, tão falsa, tão pobre, tão medíocre a minha tristeza.
Bateu-me lá no fundo do peito qualquer coisa parecida com compaixão. Soou uma nota em dó. Dó de vê-la ali, metida no chão, tomando para si uma importância que não lhe designo.
Menos de cinco centímetros, mas tão aguda sua voz, tão grandes aqueles olhinhos pretos e brilhantes, tão pontudinho aquele nariz torto e fino, tão esverdeada aquela pele enrugada e bolorenta...
Entre ativar o macro e ajustar o foco, percebi que a tristeza não era coisa de se registrar. Ela não era nem um pouco fotogênica, mal se distinguia ali, da fresta do assoalho.
Sorri sem jeito. Ela firme na pose. Menti que a bateria acabou, não tinha como fazer a foto.
Ela sorriu, agora verdadeira, seu riso mais triste. Limpou o nariz na manga e sussurrou que não tinha muita importância. Que outra hora, só se eu quisesse, é claro, podia procurá-la novamente. Disse que nunca ninguém antes quis tirar um retratinho seu.
Sufoquei umas lágrimas e pedi se ela não queria então ir lá fora ver, dizem que chegou a primavera. Ela agradeceu estridente, disse que não. Não acreditava muito nessa história de primavera. Depois disso ainda olhou para mim, baixou a cabeça e foi andando devagarzinho para atrás da CPU.
Hoje eu queria fotografar minha tristeza.
Contei a ela, pedi que se preparasse para o retrato enquanto eu ia buscar a câmera. Quando voltei, ela havia se enfeitado. Colocou na cabeça alguns pêlos caídos do cachorro. Alisou o vestidinho roto, limpou a cara de um pouco da sujeira e pingou algumas gotas do meu perfume.
Encontrei-a ali no chão, forçando um sorrisinho e uma pose.
Tão velha, tão pequena, tão falsa, tão pobre, tão medíocre a minha tristeza.
Bateu-me lá no fundo do peito qualquer coisa parecida com compaixão. Soou uma nota em dó. Dó de vê-la ali, metida no chão, tomando para si uma importância que não lhe designo.
Menos de cinco centímetros, mas tão aguda sua voz, tão grandes aqueles olhinhos pretos e brilhantes, tão pontudinho aquele nariz torto e fino, tão esverdeada aquela pele enrugada e bolorenta...
Entre ativar o macro e ajustar o foco, percebi que a tristeza não era coisa de se registrar. Ela não era nem um pouco fotogênica, mal se distinguia ali, da fresta do assoalho.
Sorri sem jeito. Ela firme na pose. Menti que a bateria acabou, não tinha como fazer a foto.
Ela sorriu, agora verdadeira, seu riso mais triste. Limpou o nariz na manga e sussurrou que não tinha muita importância. Que outra hora, só se eu quisesse, é claro, podia procurá-la novamente. Disse que nunca ninguém antes quis tirar um retratinho seu.
Sufoquei umas lágrimas e pedi se ela não queria então ir lá fora ver, dizem que chegou a primavera. Ela agradeceu estridente, disse que não. Não acreditava muito nessa história de primavera. Depois disso ainda olhou para mim, baixou a cabeça e foi andando devagarzinho para atrás da CPU.
As vezes, não fica uma foto muito bonita...
ResponderExcluirCada uma tem uma cara, um modo de agir que frente a camera fica no minimo diferente...
É meio estranho...
De qualquer forma, depois do seu momento, elas vão embora... ou pelo menos, não dão o ar da sua graça tão cedo...