segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Cidade Natal

“Vou voltar, sei que ainda vou voltar”

É estranha minha relação com Passo Fundo.
Quando eu era criança, estar lá significava uma infinitude de pequenos prazeres.
Foi aqui que eu nasci, não foi, pai?
Eu olhava as ruas tão grandes os prédios sempre gigantes e era a glória saber que eu havia nascido ali, entre aquela gente da cidade grande.
Mais tarde vinha a apreensão. Eu poderia cruzar, em qualquer esquina, com meus pais, tão biológicos quanto desconhecidos. Poderia ver caminhando, sem saber, os meus irmãos. Tudo tão imensamente angustiante. E se, de repente, no meu rosto fosse reconhecido algum traço de parentesco, nas voltas do meu cabelo, nas curvas da minha boca, nas covas do meu sorriso?
Eu tive medo que a velha herança genética pudesse me trair.
Agora, já teoricamente adulto, a cidade me angustia.
Não por ser relativamente grande, ao menos para quem mora em Taptown. Eu não sei, sinceramente, o motivo. Afloram minhas crises de autismo, muita informação para meu cérebro, tantas cores, tantos gritos, tantos movimentos... Ele trava.
Porém, como já disse, não consigo atribuir a causa ao tamanho da cidade, ela perdeu, como todo resto, o gigantismo que minha infância lhe impunha. E em Porto Alegre mesmo, aquela sim, cidade grande, sinto-me completamente à vontade.
Hoje passei a manhã em Passo Fundo, meu sentimento foi de maior confusão ainda. Caminhei sozinho, vendo rostos estranhos, torcendo para não encontrar nenhum parecido com o meu, senti-me desolado. Vaguei procurando por coisas para fotografar, ou queria encontrar um pé de ipês amarelos, não sei bem ao certo. Entrei em ruas sem saída, sorri para pessoas desconhecidas, mas tudo tão distante, tão onírico.
Meus pés iam sem comando, quando percebi estava no meio da rua, sinal verde para os carros, e eu caminhando, cabeça baixa, passos lentos, nem na faixa...
Só estranhos passeiam na cidade onde nasci. Tanta gente apressada, tantos homens de terno (imagem surreal aqui em Taptown), tantas pessoas do interior fazendo compras e consultas na “cidade grande”, tantos cachorros correndo sem dono, tanto lixo esperando o dia começar para ser varrido.
Acho que não nasci ali. Certamente, também não nasci aqui.
Eu vim.
É engraçado, mas nunca o termo sempre usado pela minha mãe fez tanto sentido.
Sempre que se refere ao meu nascimento, por eu ter sido adotado, no lugar de dizer “quando o Vinícius nasceu...” minha mãe opta pelo “quanto o Vinícius veio...”.
Por não me encaixar em lugar algum, tomo como explicação de origem os termos da minha mãe: Eu vim, pura e simplesmente.

Um comentário:

  1. Veio pra mim, só pra mim...
    E eu agradeço todos os dias por Deus ter te colocado no meu caminho...
    Tu sabe o quanto eu te amo!
    Bjoooo!

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