segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A Lucidez Perigosa

(Clarice Lispector)

"Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do que: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano - já me aconteceu antes. Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade - essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém."

4 comentários:

  1. Clarice mexe num âmago secreto do meu ser que nem sei dizer. O que ela fala se entende sem saber explicar..

    obrigada sempre pelas visitas :)

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  2. Obrigada por ter respondido meu comentário. Fiquei contente de saber que interpretei seu texto de forma correta. :)

    Adoro a Clarice Lispector! Há coisas que ela escreve que parece que são pensamentos meus, me identifico tanto!!! Acho que com todo mundo é assim, né. =]

    Beijos

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  3. Continuas maravilhoso
    bjs de quem às vezes aparece

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  4. "Às vezes sinto dentro de mim um animal perfeito. Mas não penso em deixar um dia esse animal solto. Por medo talvez da falta de estética." Mais uma da Clarice que eu amo...

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