quinta-feira, 10 de junho de 2010

De, por e sobre o texto

Em rodeios e floreios, ela de repente arrematou: Por que você não pode escrever como a Martha Medeiros? Coisas que a gente entenda...

Sem torneios e tonteios, ele disse nos meus olhos: Quantos anos? Vinte e dois?! Você escreve como gente grande. Mas realmente lhe falta uma concretude. É poema ou narrativa que você quer? Para poema faltam os versos. Para narrativa, falta a história. Seus textos dariam ótimos poemas. Quando isso se alonga, porém, não se sustenta. Em uma narrativa, o que nos marca é a história, não a linguagem.

E tudo veio a derramar onde já havia mais disso. Há algumas semanas eu estava pensando exatamente a mesma coisa. Então, meus textos são sobre....? Sentimentos, um “eu” responde prontamente, como os da Clarice. Não, outro “eu” discorda, não são como os da Clarice, porque até ela se rendeu às histórias.

Verdade.

Eu faço um diário cifrado, respondo então abrucanhado. Inovação, digo de outro lado. Não é. Ela, ele e pelo menos um “eu” têm razão. Eu sopro de tão longe que quem lê sente o vento, mas não faz idéia do que sopra. Eu preciso me explicar, me explicitar, me dizer.

O poema não é para mim, tento ao menos disso me convencer, mas jorro poesia, inevitavelmente.
Narrativa é o que mais desejo, mas na hora de escrever, não tenho história para contar.
E Martha Medeiros escreve crônicas, Santo Deus, o que faço eu?

Nada. Deixo-me distrair e penso em colocar partes minhas para dormir. Só que agora percebo: não é questão de dormir, é questão de acordar. Preciso que desperte o que em mim há de adormecido. Galos cantam alto, que acordem, então, um contador de histórias e um cronista. Que evaporem as brumas da minha noite obscura e o sol nasça no meu texto.

2 comentários:

  1. Vi, por que você tá tão preocupado com isso? Você escreve textos poéticos. Pronto. São textos em prosa com o requinte da poesia. Mas se você quer mesmo escrever uma história, porque não faz uma cujo protagonista tenha esse conflito que vc está tendo? O grande segredo das histórias ou dos romances é escrever o que se sente e o que se vive ou viveu, enfim, sobre o que conheça.

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  2. Escrever coisas que a gente entenda... não sei porque, nem sei quem disse, mas acho quase um desrespeito com a a inteligência do outro uma declaração como esta.

    Acho que a narrativa pode flertar sim com a linguagem. James Joyce? Guimarães Rosa? Flerta e se encontra na narrativa.

    Concordo que é preciso certa concretude. Mas nada é regra. E nada nasce quando queremos nos basear em divisões, esquemas, regras de como e o que escrever.

    Os textos precisam ser sobre alguma coisa? Ou eles apenas precisam ser, eles próprios, algo diferente de tudo, algo que vá em paralelo com temas, com vida, com o que nos é conhecido? Eu não sei, tenho aqui minhas dúvidas acerca desse sobre.

    Você diz: "Eu faço um diário cifrado, respondo então abrucanhado." E eu acho que você já tem sua resposta.

    Abç!

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