E eu pensava que vivendo é que eu escrevia. A vida eu tomava como combustível, entendam, para a escrita. Era um raciocínio de cronista pobre. Hoje, que eu escrevo sem a necessidade de “publicar”, é que eu percebo meu erro tremendo.
Eu simplificava demais a vida. Eu a transformava em simples matéria. Eu fazia a relação inversa. Mas agora eu sei, e o que eu sei agora é perigoso. Em mim se dá o contrário, a escrita é que me determina a vida.
Eu percebo que não são os meus personagens sombra de mim, mas sim eu deles. É que pela tinta eu vou me delineando. Eu vou sendo conforme meus textos dizem que eu sou e disso brota a vida. Depois de escrever, e mesmo escrevendo, eu sinto o que eles sentiram, eu ajo como eles agiram. Eles não têm o meu jeito, eu é que roubo os trejeitos deles. A escrita é o combustível da minha vida, percebo perplexo.
E isso é perigoso, entendem? É que sendo assim eu posso me determinar com palavras. Eu posso escolher. Se eu escrever que sou tímido e calmo, minha face vai se avermelhar por qualquer porém. Se eu disser que sou ousado, saio com a segurança de todos os homens no sorriso de enigma. Que eu nunca queira contar a história de algum assassino, por Deus.
Isso está perigoso mesmo, caro amigo! Eu tenho uma personagem que é mais, o que ela sente eu sinto, e o que eu sinto dou um jeito dela sentir também. É uma relação um tanto complexa, pq ela é o que eu quero ser no futuro e ao mesmo tempo tem os mesmos defeitos e qualidades que tenho no presente. Já estou no segundo livro dela. :) Mas eu procuro sentir o que o personagem sente para passar mais veracidade ao leitor. Pelos menos é o que eu tento fazer.
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