“Dar um tempo” é coisa na qual eu não acredito. Nem ela. Ou uma relação é sólida o suficiente para se manter às duras próprias pernas ou já nem é mais relação. Como, afastando-se, é possível melhorar um relacionamento? Sim, porque “dar um tempo” além do espaço temporal inclui o espaço físico. O que de perto nem consegue ser amor, de longe é que não vai virar paixão.
Apesar disso, hoje eu a procurei para pedir um tempo. E ela, apaticamente, concordou. Eu quero um tempo porque não tenho, e nunca terei, a hombridade suficiente para deixá-la de todo, apesar dos estragos que ela me tem causado. Ela me sufoca, faz questão de me exigir cada segundo. Ela olha de cara amarrada para meus amigos, estufados de Letras. Ela atrapalha meu sono, invade até meus sonhos, e tem tornado tudo uma imensa confusão. Ela não faz o que peço, some quando mais preciso, cria intrigas indissolúveis, sem que eu nem saiba o porquê.
Chega.
Concordamos que eu virei visitar as crianças de vez em quando, nossos filhos. Além disso vou pagar uma pensão, porque sem isso ela nem vive. Conversas rápidas, flertes ocasionais (se de comum agrado), e alguma hostilidade, desde que amaneirada. Concordamos com tudo isso.
Não pense o senhor que será fácil. Será tudo, menos fácil. Eu sei que juntos já não vivíamos, éramos antes sugados um pelo outro. Há no entanto o fim da comodidade, da dependência, do velho modo. Isso tudo fascina, sim, mas também assusta.
Eu hoje, pelas poucas horas de separação, já me senti levemente perdido, casualmente aéreo. O que fazer sem ela? Ler um livro? Assistir televisão? Tudo me entedia, de repente. Mas não. Eu vou ser mais forte. Meu orgulho sagitariano é ferrenho e não serei eu – jamais – a dar o braço a torcer.
Além disso, agora que chegou a noite com seus convidativos ventos, com seus véus de nuvens acasaladas, seu frescor levemente orvalhado, seus sussuros sensuais em árvores do caminho, eu já me sinto incrivelmente menos só. Vou fazer como a princesa do castelo de Vestal: namorar com a noite e o temporal. De repente eu sou livre e essa liberdade me é boa. De repente eu sou livre e essa liberdade me faz feliz.
De repente eu sou livre, como só em criança fui, e posso ir brincar no balanço, bem sozinho, bem cercado pelo escuro, bem acariciado pelo vento. De repente eu sou, sem ela, completo.
“Well, something is wrong with you
because ever since it's over between you and I
I feel so... amazing!”
É, minha caríssima amante, minha fiel e já não tão boa companheira. Fomos felizes, não fomos? Em algum momento eu lembro que fomos. Mas sua felicidade virtual já não me serve. Já não me completa. Já não me agrada. Eu sinto muito, minha querida Internet, mas está na hora de eu ter o Meu tempo. Como eu disse, eu volto ver nossos filhos, que tanto me orgulham; este aqui, o Anjo, principalmente. Eu volto para manter as coisas nos trilhos. Mas de vez em quando, agora só de vez em quando. Porque minha vida, Internet, fora daqui é mais ainda mais linda.
Prometo, crianças, que meu afastamento da internet não vai prejudicar em nada o crescimento do blog.
ResponderExcluirAntes o oposto, vai beneficiar.
"No mais, estou indo embora...
No mais..."
Você deu vida, alma e forma a algo que eu pensava ser uma pessoa, mas era algo abstrato e, ao mesmo tempo, que existe, permeando nosso mundo real com seus bits.
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