segunda-feira, 6 de abril de 2009

Tubérculos

“Antes disso era proibido consumir batata, cenoura, beterraba, tudo que vinha de debaixo da terra. Estes eram considerados alimentos do demônio.”

Se pudesse te falar, Madrinha, diria do quanto sou uma beterraba.
Porque embora o viço triste de minhas folhas, debaixo da terra tenho a explosão de um roxo inusitado. Os caules meus expostos ao céu, mas as raízes, ah as essências, estas escondo entrançadas na terra, nas profundas, de onde só os demônios podem espiar. Deus não me vê, porque os demônios não deixam.
É tanto talento guardado, escondido, vibrando açúcares e saladas, compotas e tinturas, que jamais poderias vislumbrar de olho nu.
Meu essencial eu escondo, eu dedico e devoto à minha legião. Fiquem com as folhas que murcham neste sol que tudo cega. Meus tubérculos mais ricos as grotas da terra ninam.
Para quem me cerca sou mais um, mais folhas no esparramar do canteiro, mais ervas a estragarem o jardim. Para quem me vê por aqui, posso ter um talento que beira a único.
Assim, quem deveria me chover apoio, renega meu nome. Quem não me deve nenhum sussurro, bate palmas à minha inusitada presença púrpura.

2 comentários:

  1. Li uma frase assim:
    "Para que seus ramos alcancem o céu, suas raízes devem chegar ao inferno". Não lembro o autor.

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  2. Por vezes deus é um tanto mais negro-humorado que o inferno.

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