sábado, 20 de fevereiro de 2010

Alegoria Verde

Que o cabelo da rainha era verde, todos já haviam percebido, mas quem ousaria falar? Num arremedo patético de A Roupa Nova do Rei, todos permaneciam extremamente mudos, enquanto a majestade desfilava pelas ruas.

É elementar dizer que o Rei ficara viúvo há pouco e, não encontrando no reino esposa à baixeza, foi a Matasquim achar com quem casar. Achou, pois, aquela uma. Era de uma beleza inegável e abrilhantada, digna de fada. O único problema eram suas melenas, tão verdes quanto as couves ao fim da feira.

Em sussurros moleculares, percorria nos becos um burburinho de ratos: “É uma bruxa!” “Feiticeira!” “Que nada, a coitada, só é feia!”. O discurso mudava muito, mas o assunto não: a cabeleira verde da nova Rainha. A majestade é que não se importava. Parecia andar alheia à relva que lhe protuberava do cocuruto. Agia, vejam só, como se fosse ruiva, loura ou morena.

Quando o médico tintureiro sugeriu ao rei que usasse na esposa algumas gotas de uma poção enlourecedoura, foi decapitado por pura injúria. A rainha continuou de cabelo verde, é lógico. O povo continuou a difamá-la, é evidente. Mas o tintureiro, o único a tentar dar uma solução, morreu. Bem feito para ele.

Um comentário:

  1. Gente, vc comentou no meu blog há muito tempo. E eu bem que demorei a vir por aqui, mas não falhei e cheguei agora para ficar.

    Gosto do cabelo verde da rainha. Se pudesse, seria uma plebéia de azul, rsrs.

    Quer trocar links?

    http://espelhoinverso.blogspot.com/

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