terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

XXII

Um dos meus pés está firme na terra. O outro, no entanto, balança ousado sobre o precipício. Uma parte de mim é rochosa e dura, viciada na imobilidade das certezas e seguranças. Outra parte minha é toda sopro, excitada com o desconhecido.

Meu problema é que essas partes são de tamanhos iguais e densidades diferentes. No embate entre terra e ar, quem sempre vence é a terra. Mas o vento é bom, me acaricia e seduz, a altura me chama, o vôo é incerto, meu Deus, mas é lindo. Quem, porém, pularia do precipício sem a garantia de poder voar?

É preciso coragem demais para abandonar o que se conhece por vida, essa imensa e frágil caixa de pandora. Será que eu tenho coragem para resistir às indecisões do caminho? Será que eu me arrisco a ir, mesmo sem saber se preciso levar guarda-chuva?

Acho que sim, porque talvez o vento grão por grão tenha arrastado a terra. Talvez minha comodidade tenha se desfeito um pouco em cada decepção, tornando as rochas menos brutas. Talvez eu tenha lembrado que anjos têm asas. Talvez eu tenha descoberto que ainda posso voar. E então, então adeus.
 

2 comentários:

  1. Realmente é preciso coragem demais para pular de um precipício sem saber se é possível voar.

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  2. Sim. Temos realmente dois lados(ou mais). Nossos medos que as vezes nos guarda. Nossa coragem que as vezes nos atira em precipícios.
    Você é um escritor excelente. Sabe bem como retratar a alma e as vezes
    me vejo nos seus escritos.
    Te admiro cada vez mais, em cada linha que leio. Abraços.

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