sábado, 25 de setembro de 2010

O vôo da mariposa

Textos e escadarias e cruzes. Quando eu a conheci, ela era ainda lagarta. Sobrancelhas largas, óculos de aros pretos, cabelos sem corte e moletons bem largos. Alguma coisa no brilho daquele sorriso, no entanto, me fascinou. E como não se deixar fascinar? Havia nela uma nuança de timidez, um coração capaz de abarcar o mundo e uma bondade de criatura santa. Por esses jogos que não se explicam, senti por ela um carinho imensurável. Eu soube, já de início, que seria sempre amigo daquela menina.

Destinos e rodas e ventos. Nos perdemos por um tempo. Tempo esse, em que ela ficou no casulo. Quando voltei a encontrá-la, por ocasião de uma ida minha ao jornal, a encontrei já mariposa. Mulher crescida, lentes de contato, cabelos bem cortados, sobrancelhas bem finas e o mesmo modo de sorrir. Por essas coisas de acaso, achei o blog dela na internet, ainda o Crazy Lidi. No blog o msn e por lá ressurgiu nossa amizade.

Letras e jornais e Nelsons. Foi por ela que consegui o emprego no jornal. E, apesar de todos os estresses, que não foram poucos naquela época (acreditem), fomos imensamente felizes. Nossos risos ecoavam nas tardes vazias. Nossas reflexões apaixonantes e mordazes tinham espaço no empacotamento de jornais, aos sábados de manhã. Pelo msn, as tiradas inteligentes e hilárias voavam de uma sala a outra, com ela sempre tendo que prender o riso: o chefe estava de olho! Emessenadas à parte, foram aprendizados, alegrias e algums incômodos bem repartidos. Foi por incentivo dela que mudei de curso minha vida. Abandonei o Jornalismo e encontrei a área das Letras.

Anjos e nuvens e borboletas. Foi através dela, também, que conheci aquela menina do guarda-chuva vermelho, que veio na porta e me cumprimentou docemente. Foi pelos vôos dessa mariposa que se encontraram um anjo e uma borboleta (post do dia 02/04). E se amaram. E se amam. Foram tempos de risos tríplices e inocentes menages a trois virtuais. Ríamos até a dor, bêbados de amizade, como na festa de São Cristóvão, ou naquela noite na portaria do edifício Zanetti.

Tempos e chuvas e ruas. Coisas tantas aconteceram desde aquele tempo. Nem todas boas. Houve momentos de sol, sim, mas também foram muitos os céus de chuva. Perder-se, para quem voa, é mais fácil. Apesar disso tudo, a amizade continuou, com contatos mais ou menos intensos.

Mariposas e luzes e céus azuis. Mariposas, como é sabido, voam para a luz. Talvez haja nelas algum mecanismo que da luz se alimente, que do brilho se nutra. Na escuridão, essas lepidópteras somente murcham suas asas, fenecem em seus vôos. Por isso, é tempo da mariposa sair da Cratera, seguir um halo de sol e encontrar céus azuis. Ela vai para longe, para outras terras, voar entre outras gentes, mas leva cada segundo nosso impregnado nas asas, eu sei. Ela vai e leva no peito os sorrisos, os olhares, as palavras, as borboletas, os anjos, os nelsons, as cruzes... Ela leva tudo que foi, tudo que viveu, e a isso ela vai colocar novas cores, novos espaços, novos seres que voam, novos bichos que rastejam, novos sons, novas glórias e novas lágrimas. Tudo para ser ainda melhor, ainda maior, ainda mais bela.

Lidita.
Querida mariposa.
És minha irmã por tantas, tantas coisas. Somos tão iguais em muito, até no número da identidade (só os três últimos dígitos mudam), que não sei me despedir de ti sem dizer que perco um pedaço meu. Só não fico mais triste, porque seria egoísmo demais, diante da felicidade que vejo em ti. Tu realizas agora um sonho há muito nutrido, voas para teus céus azuis. Tenho certeza que de vais encontrar neles toda luz necessária para fortalecer tuas asas e revigorar tuas cores. É um movimento natural, tua alma alada já não cabe nos vincos e escuridões dessa Cratera. Eu te desejo toda felicidade e toda sorte que puderes encontrar. Eu te desejo bons ventos, boas aventuras, boas amizades e boas descobertas. E pode ter certeza de que, quando você precisar, vou estar aqui. Pode ter certeza também de que a cada momento importante estaremos pensando em você, eu e minha borboleta. 
Lidi, nós estaremos aqui esperando ansiosos o dia de te rever, de te abraçar de novo, de ouvir tua voz e fazer coro com teu riso. Mas, enquanto esse dia não chegar, estaremos torcendo a cada momento para que tu sejas imensamente feliz. Afinal, tu mereces.
Com amor,
Vini - teu terno e eterno mano.

2 comentários:

  1. Aaaaaaaaaaaaaaiiiii!!!!!! Agora tu conseguiu: me lavei chorando aqui, trancada no banheiro do hotel (cheguei tarde, as outras Au Pairs ja estão dormindo).
    Ai Vini meu cansaço agora não consegue nem sequer me ajudar a escrever agora, mas não podia deixar de ler teu post. E que maravilhoso! Foi a coisa mais linda que alguém já escreveu pra mim, me arrepiei e chorei do início ao fim.
    Obrigada pelo carinho mano meu. Também amo vc e a tua borboletinha por demais da conta. Agora preciso ir dormir, to há mais de 24 horas acordada, to um caco. Mas amanhã, como aqui no hotel tem wi-fi, vou dar um jeito de contar como foi minha aventura.
    Amo tu demais!
    Bjao

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  2. Parabéns pelo texto. Bonito, poético. Uma homenagem feita com o coração.

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