terça-feira, 18 de outubro de 2011

Para mim.

Para Ághata.

Concordo com Clarice. Pertencer é a mais premente necessidade humana. Mas como você pode pertencer a alguém sem se entregar, sem se doar inteiro ao outro? Não pode.

Você não pode pertencer a alguém e continuar seguro, continuar imune, continuar por sua própria conta. É como na matemática: ou pertence, ou não pertence. Há a vontade imensa de se sentir amado, isso é natural. Mas enquanto você não aprender que, para isso, é preciso se deixar amar, não vai funcionar.

E se deixar amar tem preço. O preço é expor sua fragilidade, sua bondade, sua fraqueza imensa. O preço é arriscar machucar-se pelo incerto, pelo sonho, pelo pulo de trapezista sem rede. O preço, meu bem, é se deixar inteiro na mão de alguém. E disso poucos tem coragem.

Por isso o vazio da vida, por isso as festas, as bebedeiras, a futilidade cotidiana a que nos expomos. Por vontade e medo. Vontade de pertencer e medo de se doar. Enquanto tudo for assim, ainda haverá lágrima no escuro da noite. Ainda haverá solidão no fundo da alma. Ainda haverá angústia assombrando no peito.


5 comentários:

  1. pertencer ou não pertencer, eis a questão :)

    Vini, não sei, acredito em um meio termo, um caminho do meio, que talvez seja o SER. Ser do outro, sem, necessariamente, pertencer. Ser, no sentido de existir; e existir por inteiro, viver em completude, cumplicidade...
    Pertencer me transmite mais uma ideia de posse/propriedade, que de entrega/doação, I don't know [só sei que nada sei, talvez precise rever meus conceitos :)]

    Beijo,
    V

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  2. Val.

    Acho que concordo com você um pouco. Mas gosto do conceito de "pertencer", pelo menos daquele elaborado pela Clarice. ( http://boralalx.blogspot.com/2009/06/pertencer-clarice-lispector.html ).

    Não suporto o pertencer-objeto, do tipo que escraviza, poda, coisifica.

    Gosto do pertencer-segurança, do pertencer-ter-em-quem-chorar, do pertencer-não-estou-só, do pertencer-alguém-cuida-de-mim.

    Mas não precisa mudar seus conceitos não, talvez eu devesse mudar meus termos. Sou pobre no trato com as palavras. hehehe. Ainda mais às vistas de uma poetisa, iniciada do templo...

    Obrigado pelo toque, anyway.
    Abraço.

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  3. Agora que li a Clarice, compreendi o contexto.
    E deixa de onda, que, de pobre no trato com as palavras, você não tem nada!

    Beijo,
    v

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  4. Acredito que é um necessitar pertencer. Mas tudo que dependa do outro, não defendo a posse, a liberdade é a maior propriedade privada que existe.

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  5. No fundo nos armamos tanto. São tantos medos e quando menos esperamos... o outro já levou quase tudo do que era nosso. Não só o pertencer... levou a casa, a boca, o beijo e algumas vezes, nossa alma.

    Pertencer é um necessário risco. Talvez, uma ávida busca que nos dias de hoje é o mesmo que uma colisão.

    Xiiiiii....

    Bjs

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