Ainda do aeroporto, enquanto os outros nos olham, eu digo minhas últimas palavras pra você. E elas são estranhamento doces. Também é doce o que você me diz.
Ironia: mergulhados no ácido, falamos caramelos.
E de minha parte, mesmo que doce, não há volta possível. Há a dor que se acalma a cada dia. Há o amor que deixamos descansar e mofar no fundo da gaveta do meio. Há os traços do rosto que vamos esquecendo. Há o perfume da pele que já não conseguimos mais sentir. Há a voz que começamos a confundir com outras vozes. Há as músicas que voltam a ser apenas belas músicas. Há os sonhos que vamos apagando, desfazendo, descosturando, bem aos poucos. Há as coisas que o outro disse e que vamos embaralhando... embaçando... até perdê-las.
Não há dor definitiva. Há o tempo e sua corrosão. Há o inferno daqui e há as outras pessoas que chegarão um dia.
Não te disse tudo isso, mas vi. Vi você se apagando de mim. Vi eu me apagando em você.
Não chorei. Fui firme, embora quem nos visse ali, no saguão, desolados, compreendesse qualquer coisa de dor nos meus olhos de mel. Você ainda tinha o quê dizer. Não disse. Eu pedi assim:
— Agora é melhor você ir. Você está se atrasando e se ficar mais um minuto, do jeito que as coisas estão, eu vou acabar dizendo “Eu te amo”. E não é isso que eu quero. Então... Até mais.
Menti.
Não no dizer que eu amava. Amo, louca e desesperadamente amo, para minha própria maldição. Menti quando disse o "até mais".
Porque, meu amor, nós não nos veremos.
Nunca mais.
Por que o sofrimento é tão bonito? O poeta já dizia: "a dor no fundo esconde uma pontinha de prazer." Obrigada pelos seus escritos.
ResponderExcluirA certeza do que não deixaremos de amar, mas que não poderá ser.
ResponderExcluirAprendi isso a pouco tempo, não que ache justo.