domingo, 2 de novembro de 2008

Pesadelos

“Saint Marie, Mère de Dieu, priez pour nous, pauvres pécheurs,”

Eu não gosto quando a casa se impacienta.
Quando ouço perdidos os passos de quem já foi. As unhas, as garras, batem no chão de madeira quando ela passa. Eu odeio quando tudo que deveria estar suspenso se move.
Não gosto dos gemidos, dos bufares, dos corpos pesados que rolam no chão. Os gemidos de angústia não cessam e os passos na escada estão cada vez mais perto.
Quero que se calem as vozes, que durmam os mortos, que caiam as unhas.
Mas eles não calam. Estragam minha música, arrancam meu sono.
Quando tudo acalma é só sinal de que eles vêm novamente. As cadeiras rangendo, as grades da janela gritando porque estão sendo agarradas. As tábuas gemendo por socorro e as nuvens do alto se fechando para não vê-los assim, em casa.
Eles são todos desleais, me olham como se o invasor fosse eu, não respeitam meus gritos, não temem meus olhares, eles me calam.
Eles me cansam.

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