"Porque o show não pode parar!"
O espaço perdido no ar. A incerteza geral do pulo.
No meio do espaço, o trapezista descobre: não há rede de proteção!
Ficar na barra onde estava já não pode. As mãos cansariam e só haveria um destino certo: o chão. Alguém pausou a vida, com tranqüilidade imensa, e o trapezista ficou suspenso.
O frio na espinha parece eterno e como estão distantes suas mãos do próximo trapézio.
É preciso ir em frente, arriscar o pulo, o ar é tudo, exceto imobilidade.
A platéia de respiração suspensa, bocas abertas, olhos abertos, exceto os dois ou três que prevêem a queda e, quase sádicos, chegam a torcer por ela, de olhos bem fechados, não gostam de desgraça.
Esperança, o outro trapézio vem.
Mas vai. Vem, mas vai. Vem, mas vai. Vem, mas vai. Vem!
Mas vai...
Movimento pendular em velocidade decrescente. O trapezista, descrente, já não sabe mais, será que vem? Será que vai? Será que voa? Será que cai?
O dono do circo deveras se preocupa: quem ficará no lugar do trapezista? Pega o celular e liga ligeiro, talvez a mulher barbada ainda não tenha outro emprego.
Dois anjos, um pouco acima da lona, apostam fios de longo algodão doce. Um acha que cai, o outro acha que não.
Cai, cai, balão.
Cai, cai, balão.
Aqui na minha mão.
Não cai não.
Não cai não.
Não cai não.
Cai ali, bem mais no chão.
Quem esqueceu ali da rede de segurança?
Ah, trapezista, seu medo vão de altura não olhou o chão antes de dar o salto?
Agora está lá, preso no ar, teu anjo da guarda apostando que cai.
E se cair, nunca mais saltar? Se saltar, nunca mais cair?
O palhaço, coitado, fecha os olhos assustado.
Que o respeitável público não negue, é boa a sensação. É boa a adrenalina, o suspense, a surpresa.
É boa a emoção de estar vivo, presenciando a morte. Suas cadeiras, mais cômodas que confortáveis os mantém seguros. Mesmo as arquibancadas de pau tosco e público nem tão respeitável são mais seguras que o ar.
Para todos é bom, para todos é alegria, tudo faz parte do epetáculo, como anunciou o argentino.
O trapezista não acha nada bom. Queria fechar os olhos e ao abri-los estar seguro, porém, de olhos fechados não poderia calcular o momento exato de estender as mãos na tentativa de agarrar a outra barra.
Precisa pensar com calma (não há mais tempo). A barra precisa vir (mas vai). Seus dedos precisam fechar (as mãos suam demais). Seu corpo precisa impulso (ele treme e tremendo perde as forças).
É um aprendizado: a Eternidade, o Infinito.
A vida inteira e muito além, na velocidade com que eu digito um ponto: .
Tudo durou menos que isso, menos que um ponto, não haveria espaço sequer para reticências...
"E se a platéia exigisse bis?"
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