terça-feira, 1 de setembro de 2009

Os Tratos da Ousadia

Eu sou ousado. É mentira. Como? Por mais que incline assim os olhos, por mais que erga o queixo, por mais que empine a pompa, é mentira. Eu sei. Sou covarde. É porque comigo o mundo não aconteceu direito. Sou, porque no primeiro tapa não revidei.

Não sou leão, não sou pantera, não sou leopardo. Sou bicho que foge, não bicho que caça. Sou daqueles que se escondem no escuro. Sou daqueles que tremem em um canto e tem olhos bem grandes. Assim, ó. Sou frágil.

Eu tenho é medo de quebrar. Porque se quebrar, se arranhar, se machucar, daí... Daí o quê? Daí não sei. Medo de gostar de ser rato. Medo de me mudar para o esgoto. Talvez. Mas se nem gato, nem rato, do que vale? Morcego gordo. Porque nem voar eu vôo. Morcego é mais que rato? É menos. É evolução. Não. É cego, ruidoso, horrível e cagão.

Já viu caverna de morcego? Moramos numa. Não por fora, moramos por dentro. Mas morcego vira vampiro. Vampiro é só um parasita. Igual berne, lombriga e bicheira. Verdade. E se fosse planta? Dorminhoco. Ou inço. Acho bonito chorão. Mas nem choro quase. Se fosse planta morria, porque sou seco demais. Então cactos. Perfeito. Não deixa ninguém chegar muito perto.

Eu deveria ao menos tentar. Ser mais sociável não dói. Dói. Dói sim, porque você precisa rir de coisas idiotas. Melhor ser cactos ou idiota? Rato.

2 comentários:

  1. Isso é um pouco diferente do Anjo que conheci. Ele ficava no escuro, mas encarando sem medo, de cima a baixo, com olhos de gula... olhos que caçam. Não olhos que fugiam.
    Bom... se era verdade não sei. Mas aparentava.

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