Para Aninha, que a encontrou, era uma flor diferente de todas as já vistas por sobre a Terra, ao menos a do jardim. Chafurdou em dúvida: Colho ou não colho? E se for a única do mundo inteirinho? E se nunca mais crescer? Ah, mas cresce. Se não arrancar tudo, cresce; assim como dedo cortado.
Puxou com cuidado imensurável, quebrando sem judiar o galinho flexível. Botou bem perto do olho direito. Meu Deus, que prazer imenso. Havia nas pétalas veiazinhas de um azul escuríssimo, que saiam meio e iam clareando para as pontas. Ramificavam-se todinhas, perdendo-se em singelas transparências. As pétalas, como eram finas, tingidas de um lavanda-céu. Cinco ao todo, e em forma de coração.
Não, perfume não tinha. Tinha mais era qualquer cheiro de verde, embora fosse uma flor azul. Não era maior que um botão de casaco. Vista de baixo era mais opaquinha, mas por cima brilhava enveludada de sol. Mas que delicadeza tinha Deus! Mãos enormes capazes de moldar tão frágil belezinha. Pois no meio havia até mesmo uma estrelinha branca, vejam só.
Qual será o nome, heim, Aninha? Na certa um nome bonito, sendo assim, tão suave...Tinha qualquer textura macia, cariciosa no contato com o rosto. A menina passou-a de leve pela bochecha rosada, enquanto sorria, de olhos fechados.
Mal podia esperar para contar a alguém. Qualquer um. Na certa chamariam os outros e ela seria conhecida por descobrir “a primeira flor azul do mundo todo inteiro de todos os tempos desde o começo”! Sorriu sozinha. Foi então que entrou em casa correndo, toda faceira, jogou-se em meus braços e, abrindo a mãozinha em concha, mostrou-me a incrível descoberta.
— Olha só o que eu achei!
— Aham.
— Não é incrível?
— O quê?
— A flor! Veja, é azul.
— Sim, estou vendo. Mas não é flor, minha filha, é só um inço.
Aninha sabia o que era inço. Deixou cair a florzinha triste no assoalho da cozinha... e foi brincar de outra coisa.
Puxou com cuidado imensurável, quebrando sem judiar o galinho flexível. Botou bem perto do olho direito. Meu Deus, que prazer imenso. Havia nas pétalas veiazinhas de um azul escuríssimo, que saiam meio e iam clareando para as pontas. Ramificavam-se todinhas, perdendo-se em singelas transparências. As pétalas, como eram finas, tingidas de um lavanda-céu. Cinco ao todo, e em forma de coração.
Não, perfume não tinha. Tinha mais era qualquer cheiro de verde, embora fosse uma flor azul. Não era maior que um botão de casaco. Vista de baixo era mais opaquinha, mas por cima brilhava enveludada de sol. Mas que delicadeza tinha Deus! Mãos enormes capazes de moldar tão frágil belezinha. Pois no meio havia até mesmo uma estrelinha branca, vejam só.
Qual será o nome, heim, Aninha? Na certa um nome bonito, sendo assim, tão suave...Tinha qualquer textura macia, cariciosa no contato com o rosto. A menina passou-a de leve pela bochecha rosada, enquanto sorria, de olhos fechados.
Mal podia esperar para contar a alguém. Qualquer um. Na certa chamariam os outros e ela seria conhecida por descobrir “a primeira flor azul do mundo todo inteiro de todos os tempos desde o começo”! Sorriu sozinha. Foi então que entrou em casa correndo, toda faceira, jogou-se em meus braços e, abrindo a mãozinha em concha, mostrou-me a incrível descoberta.
— Olha só o que eu achei!
— Aham.
— Não é incrível?
— O quê?
— A flor! Veja, é azul.
— Sim, estou vendo. Mas não é flor, minha filha, é só um inço.
Aninha sabia o que era inço. Deixou cair a florzinha triste no assoalho da cozinha... e foi brincar de outra coisa.
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Eu já fiz isso. Já 'descobri' flores e insetos únicos e maravilhosos. Também já vi lua quebrada, quando era minguante. Já troquei avião por disco voador e gato por bruxa.
Queria saber quando que perdemos essa visão que transforma até as coisas mais simples em fatos espetaculares? Quando o mundo deixa de ser mágico e passa a ser apenas mundo? Quando os dias começam só a correr, sem qualquer graça?
Eu queria ter mais respostas. Respostas inventadas.
Queria saber quando que perdemos essa visão que transforma até as coisas mais simples em fatos espetaculares? Quando o mundo deixa de ser mágico e passa a ser apenas mundo? Quando os dias começam só a correr, sem qualquer graça?
Eu queria ter mais respostas. Respostas inventadas.
é quando deixamos de ser quiméricos e caímos na banalidade... Passamos a nomear aquele sentimento que tínhamos quando crianças e que nos incomodava um pouco (como ao arrancar flores azuis únicas)de crueldade. E passamos, de fato, a sermos cruéis
ResponderExcluirFico inconformada em como o tempo passa depressa. "Quando se vê, já são seis horas!
ResponderExcluirQuando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal... "
Mário Quintana.
Deveríamos acordar sempre com um ânimo que nasce não sei daonde, só pra nos fazer viver o dia como se fosse o último.