Mandou então que eu mantivesse nos olhos a venda e na boca a mordaça. Então eu não podia ver? Não. Falar também não podia? Não. Embora me mantivesse preso em outras teias, não amarrou minhas mãos. Isso é o que mais me assusta. Ela não amarrou minhas mãos, entendem? Eu poderia, portanto, arrancar a venda e a mordaça. Mas não arranquei...
Em troca de quê? De beijos passados, de toques amanhecidos, de sussurros vencidos. Eu me entreguei todo por muito pouco e me fiz prisioneiro cativo daquele cansaço.
Jogado no calabouço frio, irremediavelmente lânguido, desejava-me as torturas na pele. E as torturas não eram outras senão aqueles toques, rebocos de um amor vazio, arremedos de uma paixão doente.
Então era assim? Era. Eu era prisioneiro sem grilhões nos pés, sem algemas nas mãos, sem grades em volta e sem cadeado na porta.
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