quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Reflexões sobre minha escrita

A escrita para mim veio como um processo de cura, tal como se deu com Caio F. Abreu e Clarice Lispector. O mais importante no meu ato de escrever era promover a catarse, ou seja, purgar minhas emoções. Dentro dessa perspectiva, fui conduzido a uma espécie de “arte pela arte”, conforme as teorias similares às de Hegel.

Minha escrita estava, então, restrita ao meu próprio foco, em detrimento ao do leitor. Para mim, construir textos herméticos e enigmáticos, era uma fonte indescritível de prazer. Eu pensei, por algum tempo, que com isso fazia arte. De fato, naveguei fundo tanto no cultismo, quanto no conceptismo, valorizei complexidades de formas e conteúdos, com minha linguagem rebuscada e minhas idéias truncadas.

Imerso em um processo caótico, na medida em que simbolista, encontrei na prosa poética palco derradeiro para minhas charadas textuais. Ler meus textos não era simplesmente ler, era antes decifrar.

Se por um lado essa proposta de interpretação aberta dava vazão a sentidos polissêmicos, construídos pelo leitor; por outro, deixava o mesmo leitor confuso e perdido. Afinal, estamos acostumados a lidar com teorias de certo x errado. Tudo que foge e penetra no campo do “possivelmente” e do “provavelmente” gera insegurança e, portanto, desagrado.

Ninguém quer ler uma coisa que não compreende. Ninguém quer terminar com macaquinhos na cabeça. Para mim, no entanto, a narrativa simples, o vocabulário básico, a organização textual padrão, não passava de mera “contação de histórias”. Eu sabia fazê-la? Sabia, mas não representava de forma alguma um desafio “artístico”.

Eu traduzia “arte” por “complexidade”. Logo, quanto mais complicado, mais artístico um texto seria. Agora percebo, no entanto, que a verdadeira riqueza está na simplicidade.

Quando mais simples e compreensível um texto é, mais ele pode chegar ao leitor. Mais efeito ele tem. Que se dane minha vaidade de escritor, minha busca embebida em soberba pelo complexo elitista e narcisístico. O que importa mesmo é se fazer compreender. É tocar, emocionar, fazer sentir... Este é o sentido da arte. Se eu conseguir fazer isso de forma complexa e rebuscada, ótimo, mas se eu não conseguir, que minha escrita seja simples e pura, como água. Afinal, o champanhe pode ser mais complexo e fulgurante, mas só a água é capaz de matar a sede.

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Obrigado, Professora Dr. Vaima, por me fazer compreender mais isso com suas palavras: “Escrever é um compromisso com a humanidade. Você nunca saberá o alcance de suas palavras nem a intensidade do bem que poderá estar fazendo. Você tem esse poder, por isso não se permita parar de escrever. Seria um crime.”

3 comentários:

  1. Adorei a postagem.

    Hosnestamente, Gongorismo, Quevedismo... Isso atrai, mas de fato a simplicidade é dotada de um dom maior - talvez -, o dom da compreensão de todos.
    A palavra é um bem humano. Ser simples é ser todos. É ser compreendido.
    Claro que é maravilhoso ousar e ser erudito... De fato, tantos autores são marivilhos sendo assim.
    Dizem que Mário de Andrade, poderia ter sido maior se não fosse sua grande erudição.
    Mesclar, talvez seja a solução.


    Bom início de ano. Muitas prosas para ti.

    Beijos,
    Ry.

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  2. Vinicius, admiro sua sinceridade. Também já fui do grupo que cria que quanto mais complexo e fechado um texto fosse, melhor ele seria. No entanto, isso não é uma regra. Um texto aparentemente hermético pode, além de muito confuso ao leitor, não ter nada a dizer. Enquanto, muitas vezes, um texto aparentemente simples, pode guardar sentidos únicos. Há autores cuja escrita não tem tantas ousadias gramaticais e/ou léxicas, mas que, num contexto geral, implantam questões e pensamentos aos que leem. Sempre penso em Kafka, por exemplo. Muitos dos seus textos não são narrativas pesadas em ousadias gramaticais, mas em muitos momentos o leitor (digo por mim, agora) se vê completamente perdido. A língua que ali lemos é a nossa (na tradução, obviamente) e, ao mesmo tempo, não é. Nos confunde. Enfim, com essas palavras deixo meus votos de um feliz ano novo para você e muito sucesso!

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  3. Vinicios, me chamou atenção o seu "EU DESISTO" da comunidade EU TENHO UM BLOG. E resolvi espiar o seu blog. Sua professora está certíssima, você não deve deixar de escrever NUNCA. Gostaria de ter inteligência suficiente para poder escrever como você, mas, a inteligêngia que tenho é suficiente para apreciar ótimos textos, assim como os seus. Parabens! Continue escrevendo, porque eu e outros leitores queremos continuar lendo o que você tem p/dizer. Um grande abraço.
    obs: Vou colocar a minha opinião do seu blog lá na comunidade.

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