É que em mim a solidão se alia ao vinho. Tinto, seco, encorpado e em uma xícara na qual se lê “Nescafé”. (Gargalhadas). Como sou patético, deus, na sacada. E o mundo vivendo e as famílias jantando e os jovens passeando. Nas ruas. E os postes brilhando nas ruas. Como brilham os postes nas ruas, flores metálicas plantadas para brilharem nas ruas. Que lindos são os postes. Eu amo os postes das ruas. E aos carros eu odeio, porque eles não se plantam. E porque também a mim o carro é inviolável. O carro tem segredos em seus pedais e marchas e luzes. Eu não sei mexer o carro. Nem admirá-lo. Então o carro não presta.
Controle remoto presta. Aumenta o som, mesmo no escuro, mesmo sem eu ter que atravessar a sala toda, mesmo sem ter que sair da sacada. Na próxima encarnação eu serei um controle remoto. E seus dedos desfilarão em mim, me apertarão, me excitarão, e eu farei as coisas acontecerem. Ou não. De birra eu não funcionarei pra você.
Siempre que te pregunto que cuándo, como y dónde, tú siempre me respondes: quizás, quizás, quizás... Y así pasan los dias, y yo desesperando, y tú, tú contestando: quizás, quizás, quizás. No céu tem postes. Estrelas. Quando eu era pequeno pedia coisas às estrelas. Elas nunca caíram -as coisas - do céu para mim. Outro gole, mais vinho, mais sozinho. E estou tão triste que tenho uma vontade imensa de rir. E rio, sozinho.
A vizinha de baixo me grita uma coisa feia. Insensível. Do meu pulmão estufado eu esbarro no berro: No existe un momento del dia en que pueda apartarme de ti, el mundo parece distinto cuando no estás junto a mi. Minha xícara vira e eu ouço o vinho escorrer sacada abaixo. Tomara que respingue na cabeça da velha.
A noite é quente e a brisa me lambe bem. Melhor que você. O vinho terminou. Merda. A garrafa eu atiro pro térreo. A xícara também. Não me servem. O vidro explode, a vida explode, a vizinha espoca de vez. (Gargalhadas). A salafrária não sabe da vida. Tem um marido que a come de vez em quando e é feliz por isso. Ela não sabe do amante, da náusea, do tédio. E é feliz por isso. Que tu has vivido con otras gentes, lejos de mi cariño. Te quiero tanto que me encelo, hasta de lo que pudo ser, y me figuro que por eso es que yo vivo tan intranquilo.
O gosto que fica do vinho que foi é amargo. Amarga é a solidão e a rua, quando se lambe. Amargas as paredes, amarga minha pele e os dedos que chupo, com o fedor do cigarro. O amargo cura, diz flutuante a avó muerta. O amargo mata, eu respondo pra lua. Contigo aprendí que existen nuevas y mejores emociones, Contigo aprendí q conocer un mundo lleno de ilusiones. De vez em quando eu ajo como se fosse feliz, sabia? De vez em quando eu finjo que não quero tapa na cara. Mas é que quando me corto sempre acabo chupando o sangue. E tenho vinho dentro de mim, vinho que só eu bebo. Contigo aprendí a ver la luz del otro lado de la luna.
Você quer? Não, não o vinho. Você me quer? Bem, inteiro, sim, daí o vinho vai também. Se não quiser. Se não quiser não precisa agradecer com um “não, obrigado” falhado. Agradeça com uma mão gelada nas minhas costas suadas. Em um só empurrão, na beira da sacada, adiós, então, corazón.
Y angustiado para siempre te perdi. Fatalidad signo cruel, en su rodar se llevo el mas valioso...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.