domingo, 17 de julho de 2011

Aniversário

Ela planejou a festa de Ághata com a mesma delicadeza com que planejaria uma vingança frígida. Comprou as velas cor-de-rosa, os pratinhos e copinhos de papel enfeitado, os balões coloridinhos e salpicados de corações, os chapeuzinhos decorados com motivos infantis... Providenciou, enfim, tudo. Tudo para que a velha se sentisse o mais ridícula possível.

Sabia da austeridade britânica e dos modos contidos de Ághata, de maneira que cada detalhe foi pensado para constrangê-la e diminuí-la. Ela tratou de convidar, pessoalmente, cada desafeto da velha, cada parente pelo qual Ághata nutria qualquer pingo de nojo.

Estando tudo assim, tão premeditado, era impossível ser outro o resultado. No meio da festa os olhos dela cruzaram com os de jasmim murcha de Ághata. Então toda dor se fez. Ali estava a velha, de boca amarga, de pupilas úmidas, desfeita, humilhada, de chapeuzinho rosa sobre a brancura dos cabelos loiros. Ela fizera de tudo para, em mais este dia, machucar a velha. E quem se doía inteira agora era ela. Doía pelo que havia se tornado, pela amargura que havia herdado, por ter virado, ela própria, Ághata.

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