sábado, 16 de julho de 2011

Mergulho

Só há o ar salgado em volta de mim. Mas eu posso imaginar que há água. Sim, eu posso. Posso me imaginar submerso numa piscina funda, funda de tão turquesa. A água cobrindo todos meus poros, meus cabelos flutuando em ondas calmas, a respiração suspensa no tempo, tudo leve, aquaticamente leve.

Posso imaginar meu corpo suspenso, flutuando na transparência do azul. Sou capaz de quase sentir o gelo molhando curando minhas dores, as menos amenas. Posso sentir a lentidão de cada movimento, mergulhado que estou, livre que estou, leve que estou. Voando é que estou, num céu subaquático, de estrelas marinhas pintadas e peixes falsos de fundo de aquário.

Posso abrir os olhos e ver tudo turvo, as gotas da chuva começando a ondular a superfície da água, uma folha de bergamoteira que se desprende e vem, rodopiando, servir de barco para qualquer formiga náufraga.

A chuva fica mais forte e cada gota soa como um tambor surdo dentro de mim. Imaginando eu esqueço. Eu lentamente esqueço que existe ainda o ar e que respirar é preciso. Respiro – fundo – e volto. Volto ao ar escuro do quarto. Ainda chove lá fora. Ainda anoitece aqui dentro. E não há, eu sei, nenhum mergulho possível.

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