quinta-feira, 28 de julho de 2011

Ficção

É manhã. E cedo. Então, faz de conta que você não me conhece. Faz de conta que não precisa falar comigo, através da minha porta trancada. Faz de conta que você não é obrigada a me amar assim, com esse amor pesado, visguento e cheirando sempre à nicotina barata.

Faz de conta que não há nada no quarto fechado. Faz de conta que os barulhos que vem daqui são de alguma assombração que esqueceram trancada na casa. Faz de conta que não existo – porque não existo mesmo para mim.

Faz de conta que você não precisa de mim, que não me quer exibir na vitrine dos méritos teus. Faz de conta que não nos conhecemos, que nos cruzamos nessa casa como dois estranhos nas ruas de São Paulo.

Faz de conta que é tudo uma ficção, mal escrita. Uma história das minhas em que cada um carrega a própria dor. Sem reclamar, sem pedir, sem dar. Cada um enterrado dentro de si, como nas histórias minhas. Faz de conta, por favor.

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