quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os comerciantes

Por entre sulcos e sucos de limão azedo, a tarde desvanece e mercadores torpes tentam me vender suas meias verdades. Um me diz que a sua tem desconto, outro, que a dele hoje está em promoção. Sorriem dóceis enquanto tentam me obrigar a pagar pelo que é alheio.

Vejo facas nos seus olhos quando lhes digo: “obrigado, mas já tenho minha verdade própria”. Eles não gostam e a simpatia aguada se derrete em qualquer coisa ácida, de ligeiro amargor. Recolhem rápidos o sorriso, dobram os panos sujos e um deles ainda escarra nos meus pés, enquanto xinga minha mãe e outras três de nossas gerações.

Ele fala nomes feios em línguas mortas, faz caras tortas e deixa ainda mais azedo qualquer limão. Tudo porque me recuso a seguir verdades – que não as minhas. Tudo porque lhe nego o valor de seus conselhos falhos. Tudo porque ele não admite que juventude possa ser outra coisa que não burrice, que não imaturidade, que não a falta de discernimento.

“Mas é, meu amigo”, argumento ao vento que sua passagem deixa na areia seca. “Juventude é só sinônimo de coisa ainda não vivida, de oportunidade na esquina próxima, de possibilidades infinitas”. O contrário de juventude é velhice, não burrice. E maturidade não depende de números, mas de vivências, reflexões e filosofias agudas.

Falo mais, mas ele não quer ouvir. Já foi empurrar a algum tolo suas verdades velhas, seus pensamentos baços, sua meia alma já pequena e um tanto torta.

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