O ódio. Ele sempre me veio pela voz dela. Sempre chegou me ferindo primeiro os ouvidos, só depois é que minava por dentro meus pedaços de ser. E eu fui um menino trêmulo.
Por dentro escombros, estacas, tijolos partidos com os quais ninguém queria escrever nas calçadas. Por dentro assombros, pulos, telhados quebrados pela fragilidade tamanha. Eu era só uma criança e me faziam acreditar em Deus. Eu era só uma criança e pedia a Ele que deixasse Ághata muda (ou morta).
Pelos gritos. Ela sempre me cortou pelos gritos. Os olhos verdes me doíam, sem dúvida, me açoitavam a pele, me deixavam os vergões vermelhos nas pernas, mas era só pelos gritos que ela conseguia me sangrar por dentro.
Dela os gritos. De mim o desespero.
Um dia gritei. E de estarrecimento ela ficou muda. Eu lhe havia cortado também?
Não sei.
A mudez não durou. Minha voz era fraca, minha força era desistente. A voz dela voltou, feito fênix renascida na vermelhidão das suas pontas de cigarro. E foi então que eu soube que perderia sempre.
Mesmo agora. Eu homem. Eu forte. Eu grande. Eu capaz de fazer o que Deus não fez. Mesmo agora ela grita e os espelhos se estilhaçam aqui dentro, cravando cacos na carne, mostrando pontas por baixo da pele, matando-me cada vez um pouquinho mais.
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