De menino eu trazia nas camadas mais profundas o puro amargor de quem é capaz de fazer sofrer. Por cima só calda doce e glacê. Passado o tempo, de tanto me revestir de açúcar, acabei me convencendo de que eu era bom.
Eis que agora descubro no dicionário uma palavra ardida: equilíbrio. E quando falo em equilíbrio todas as cabeças balançam, concordando. Quando explico, porém, que o meu equilíbrio depende do mal, as cabeças já não sabem para que lado cair.
Explico melhor: de tanto me encaixar no fingido papel de bom moço romântico, acabei me impregnando dele. E não há vida se não há malícia. E não há anjo, senão maldito. A bondade é importante, sem dúvida, mas precisa ter o equilíbrio daquilo que sozinho arderia no inferno.
A bondade acomoda e o mundo não é bom. Pessoas boas sofrem e se resignam. Foi quando me vi resignado com o que me faziam que percebi que o recheio amargo, sempre desprezado por mim, é fundamental para o gosto do todo. Nem todos merecem nossa parte melhor. Nem todos querem, pra dizer a verdade, aquilo que adocica e faz bem. E quem não quer, merece ter o que arde, o que queima na boca, o que incendeia no estômago e envenena no sangue.
Fato, fato, o que tento explicar faz dias.
ResponderExcluirTodo mundo também faz sofrer, não existe essa nobreza de se manter apenas no bem.
A vida ama e dói.
Necessárias contradições humanas e acima de tudo: CONSTATAÇÕES. Admitir que somos uma parte boa e outra má, ajuda a respirar melhor. Perceber que podemos escolher entregar o sal ou o doce de nós, com equilíbrio, faz crescer.
ResponderExcluirA
M
E
I , cincodezembrista !!! Amei suas palavras.
Um bj equilibrado.
Concordo com tudo, e este post me veio bem a calhar no momento...
ResponderExcluirÉ exatamente isso.