segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tarde Pobre

A tarde toda se esparrama em tafetás azuis e broderis de verde-mar. Vocês sabem, o céu, o arvoredo, os pássaros, essas coisas. Toda ela implora para ser fotografada, pintada, descrita, escrita, registrada, rascunhada, eternizada. O vento é suave para ninguém, ainda assim, bate na porta, como se não pudesse entrar pelas frestas. O ar chama, as borboletas explodem às flores de um colorido lascivo, púrpura.

O sol esquenta na medida exata, desenha sombras na grama crescida. O cheiro de tudo é verde e o gosto de tudo é novo. As nuvenzinhas voejam frescas, como recém-criadas. Os cachorros bocejam lentos, plenos de modorra. Libélulas ensaiam os primeiros cantos, ainda em desalinho. Um sapo qualquer se infla de ar e o solta tenro, piscando um olho e o outro depois. Os gatos se esparramam debaixo das laranjeiras e as formigas, em filas descompostas, passam ao lado deles, ocupadas com seus pontos verdes.

A folha que se solta de um galho não cai sem antes fazer no ar o seu ballet.A poeira se deixa varrer lenta, fazendo inveja às pedrarias. As abelhas zunem em uníssono, bêbadas de néctar doce. Enfim, tudo vibra, tudo vive, tudo voa. E o menino sente-se pleno trancado em um quarto - ainda que azul, vendo o que disse Freud sobre a natureza - ainda que humana.

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