segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Equilíbrio

De menino eu trazia nas camadas mais profundas o puro amargor de quem é capaz de fazer sofrer. Por cima só calda doce e glacê. Passado o tempo, de tanto me revestir de açúcar, acabei me convencendo de que eu era bom.

Eis que agora descubro no dicionário uma palavra ardida: equilíbrio. E quando falo em equilíbrio todas as cabeças balançam, concordando. Quando explico, porém, que o meu equilíbrio depende do mal, as cabeças já não sabem para que lado cair.

Explico melhor: de tanto me encaixar no fingido papel de bom moço romântico, acabei me impregnando dele. E não há vida se não há malícia. E não há anjo, senão maldito. A bondade é importante, sem dúvida, mas precisa ter o equilíbrio daquilo que sozinho arderia no inferno.

A bondade acomoda e o mundo não é bom. Pessoas boas sofrem e se resignam. Foi quando me vi resignado com o que me faziam que percebi que o recheio amargo, sempre desprezado por mim, é fundamental para o gosto do todo. Nem todos merecem nossa parte melhor. Nem todos querem, pra dizer a verdade, aquilo que adocica e faz bem. E quem não quer, merece ter o que arde, o que queima na boca, o que incendeia no estômago e envenena no sangue.


3 comentários:

  1. Fato, fato, o que tento explicar faz dias.

    Todo mundo também faz sofrer, não existe essa nobreza de se manter apenas no bem.

    A vida ama e dói.

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  2. Necessárias contradições humanas e acima de tudo: CONSTATAÇÕES. Admitir que somos uma parte boa e outra má, ajuda a respirar melhor. Perceber que podemos escolher entregar o sal ou o doce de nós, com equilíbrio, faz crescer.

    A
    M
    E
    I , cincodezembrista !!! Amei suas palavras.

    Um bj equilibrado.

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  3. Concordo com tudo, e este post me veio bem a calhar no momento...
    É exatamente isso.

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