quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Natureza Morta

"Escrever não é natural"

Foi quando eu entendi porque escrevia. Acordar, escovar os dentes, ler jornal, ler as placas, ler as letras na TV, ler anúncios em outdoor. Ler é natural, escrever não é. Quantas pessoas escrevem por prazer? Ah, por favor, seus professores de Português, sempre tão preocupados com os erros da sua narração, jamais escreveriam um conto.
Escrevemos, eu sei, e-mails rápidos, listas fáceis, anotações importantes até. Mas tudo por uma força maior. A escrita não é um processo natural. Fantástico. A professora que disse esta frase, na minha opinião, fascinante, ainda disse mais: "Não ensinamos a escrever. Podemos mostrar a forma correta de usar as palavras, formar as frases, construir os parágrafos, mas escrever não." Tudo tão simples e brilhante que chega a ofuscar.
Há os que estão prontos para descordar, os que pensam encontrar cinismo nas minhas observações e elogios. São, obviamente, os pretensos escritores. Nossos blogs tão vitrines, textos forçosamente naturais, trabalhosos, tudo tentando ser o próximo nas bancas. Comunidades de quem quer ser lido e admirado, comentários que procuram atrair mais comentários. Vendem suas palavras como as putas vendem seus corpos. Isso é natural. A prostituição, tão antiga quanto o mundo.
Quem me ensinou a escrever? Aprendi. Mas a escrita em mim não é natural? Não, em mim ela é tudo, menos natural.
A escrita em mim é uma necessidade, sobrenatural, diria até.
Eu tive fases de estrelismo, confesso. Sou culpado ainda por tentar angariar visitas e comentários para este blog. Quantas vezes fiquei deprimido por ver zerados os comentários? Foi quando descobri que escrever não é natural que tudo fez sentido.
Não preciso que leiam, não preciso que digam o que acharam, não preciso elogios descomplicados.
Meu blog não é mais vitrine. Sabe por quê? Porque o importante é escrever e isso se basta. A famosa busca da arte pela arte.
Aqui é só uma forma de arquivar o que escrevo, permitir que leiam, por que não? O que eu estou tentando dizer é que escrever não depende da audiência. Eu escrevo para mim.
Há os que se declaram poetas, escritores, contistas, cronistas... Cansei.
Eu já escrevi nas paredes do meu quarto, nos vidros da janela e em todos os espelhos da casa. Eu já escrevi nas minhas roupas, nos meus estojos e atrás de todos os cadernos. Eu já escrevi de carvão na rua, de tijolo na calçada e de tinta no muro. Eu já escrevi nos relatórios, entre as folhas de um jornal e em guardanapos de bar. Eu já escrevi entre os pêlos da minha perna, entre as tatuagens das tuas costas e em algumas agendas também. Eu já escrevi entre as receitas da minha mãe, entre os dedos da minha mão e em algumas fórmulas do Excel. Eu já escrevi nas fotografias do álbum, na terra com os dedos, com água nos azulejos. Eu já escrevi com meu sangue, com café e com suco de limão. Eu já escrevi no vapor dos vidros, contos inteiros nas teclas do celular e frases cifradas para ninguém decifrar. Eu já escrevi o que não queria que lessem (e leram), já escrevi o que não queria escrever (e odiei), já escrevi cartas simplesmente rasguei (e chorei). Já escrevi poemas que deixei entre os livros, mensagens que "perdi" nos armários da biblioteca, e palavras soltas na porta de um banheiro. Eu já escrevi debaixo do tampo da mesa, atrás dos quadros, por dentro dos armários. Eu escrevi o que você nunca irá ler e foram meus melhores momentos. Eu escrevo textos enquanto ando nas ruas, enquanto o ônibus demora para chegar e enquanto estou nas aulas de Latim. Eu escrevo com fúria e com força, com vontade e caneta (nem sempre). Eu já escrevi nos tecidos da minha avó, nas ferramentas de ferro do meu avô e entre os recibos do meu pai. Eu já escrevi aos meus amigos, aos meus demônios, aos meus inimigos e sem rancor. Eu já escrevi de fita vermelha na máquina de escrever, porque a preta acabou. Eu já fiz textos inteiros no bloco de notas e já fechei programas sem salvar. Já fiz poemas à lixeira, perdi todos textos salvos e queimei folhas cheias de mágoas. Tenho um livro escrito que não quero publicar, ganhei concursos com poemas que me envergonham só de ler, já fiz sucesso com o que hoje acho tão banal.
Sei que escreveria a Bíblia com meus papéis perdidos, gavetas cheias de papéis sujos de letras, há tantas pessoas, nos meus contos esquecidos, que jamais poderão viver. E quando vem é incontrolável, amoral e sem sentido toda essa angústia nua da arte de escrever.
Aprendam: Ser escritor é uma conseqüência de escrever, não uma causa para.

domingo, 24 de agosto de 2008

Das Luas

“Quando Ismália enlouqueceu”


Porque Ismália viu o homem pisar na lua, mas nunca o viu descer de lá, pensa que ficou no céu. Nas noites de lua cheia, olha serena e amantíssima, confidente e piedosa, só ela se deu por conta que esqueceram um homem no espaço?
Na minguante pensa o quanto deve ser difícil ficar se equilibrando só naquele pedacinho que sobra. Pior ainda na nova. Ela procura a lua na imensidão negra do céu, nem sempre a encontra, mas imagina o pobre homem sozinho no escuro. Será que é frio lá na lua? Ah, Ismália queria tanto aquecer o homem da lua.
Sonhadora e romântica ela sente com uma certeza instintiva e pungente; o homem da lua está olhando para ela! Sentadinho na imensidão de prata, vendo no planetinha azul e nebuloso, por entre os prédios, as calçadas das ruas, a mulher de vestido com florinhas vermelhas, olhando para ele.
Ela chora. Uma lagrimazinha quente que cai no decote entre os seios murchos. Pobre do homem na lua! Tão apaixonado, sempre a observando aqui na Terra, sem ter como encontrá-la. Um amor assim tão bonito e tão difícil, tão distante e tão branquinho. Ela joga um beijo pro céu. Espere, amor, que já vou indo.



Ismália
(Alphonsus Guimaraens)

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava longe do céu...
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar. . .
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma, subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

sábado, 23 de agosto de 2008

Ao lençol de cetim carmessim

Há dias em que perco o ar
Há dias em que perco o chão
Meses de Festa
Horas de solidão
Maus momentos de virtude
Meus instantes de paixão

Ar e chão
Festa e solidão
Virtude e paixão

Vem comigo, depois te explico.


Cartas na mesa

“Escrevo-te estas mal traçadas linhas, meu amor”

Sinto que talvez eu não devesse ter ido.
Isso tudo porque não fui, de forma alguma, quem ele esperava encontrar. Posso tornar isso mais complexo: não fui quem eu esperava que ele encontrasse. Simplesmente não consegui manipular o fascínio da forma que queria. A imagem que ele teve de mim foi bem diferente da que eu queria. Mas eu já deveria saber, falando sou um e escrevendo sou outro.
As palavras dele tão finas e cor de vinho, as minhas tão grosseiras de vermelho-batom, palavras vulgares até. Muitos risos e nenhuma graça, fui só mais uma das coisas que respiram. Tantas coisas respiram no mundo, todas tão iguais, lançando ares aquecidos no vento. Eu até então era imortal, era diferente, era especial. Mas eu tive que ir ao encontro, não tive? Agora faço parte da massa humana.
Também, o que a humanidade tinha que evoluir? A evolução roubou o direito dele de receber uma carta minha. O papel tocado, a letra desenhada, a saliva selando o envelope. Se as melhores previsões de uma cigana insossa se concretizarem algum dia, uma carta assim teria valor. Ele poderia mostrar, orgulhoso, aos filhos que quisessem ser como eu. Éramos amigos.
Fascinantes as cartas de Clarice, fascinantes as cartas de Caio. Minha voz se perdeu na tarde, junto ao ar quente das respirações enfáticas. Para sempre. As cartas são tão mais eternas, tão mais ternas. Paciência.
Quem sabe um dia eu lhe mande pelo correio um envelope, com selo colado e dia carimbado, uma lembrança, um agrado. Ainda terei alguma importância? Tanta coisa interessante para dizer, para saber... Somente nas cartas está o destino.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O Micromundo de Taptown

“Vamos celebrar a estupidez humana.”

Cidade pequena. Gente pequena. Pequenas as mentes. Pequenos os sonhos. Tudo tão infinitamente mesquinha. Caberiam todos em uma cabeça de alfinete, ou antes na ponta, porque são todos muito afiados. Inimigos se tornam aliados para combater a um terceiro, terceiros se tornam amigos para ferir os quartos e assim por diante em uma corrente interminável. Fofocas, armações, intrigas, picuinhas e o no fim o prazer torpe de ver o outro sofrer. São muitos Neros tocando harpa para uma só Roma pegando fogo.
Eu não sei bem o que aconteceu comigo, até ontem eu era parte disso tudo, mas cresci. Daqui de cima não agüento mais ver a pequenez desta gente. A consciência de tudo que passa em volta é de enlouquecer. Não almejo, até porque não é do meu perfil, que todos dêem as mãos, troquem abraços afetuosos e cantem canções de paz. Sejamos profissionais, por obséquio.
No meu trabalho há algumas pessoas que eu não suporto, porém, se tivesse que conversar com elas, entrar em um acordo, colaborar em qualquer coisa, eu faria. Não sou falso por isso, mas eu acho absurdo questões pessoais cruzando em todas as áreas da vida e fazendo com que tudo seja alvo de provocação. Elas sabem que não gosto delas e faço questão de deixar isso bem claro, mas naqueles momentos em que estivermos tratando do mesmo assunto, estamos do mesmo lado. Não consigo conceber isso de outra forma.
Ah, mas não adianta nada do que eu falar, ou escrever. Passarei a ser visto como inimigo por todos os lados. Furem um o compartimento do outro, só espero que não percebam tarde demais que estão todos no mesmo barco. Eu saltei fora, fui, evoluí.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

À Borboleta

"As borboletas estão girando"

Era uma vez um jardineiro. Sem sorte, coitado.
Plantou rosas, nasceu espinheira. No lugar de jasmim, veio hera rasteira.
No canteiro de petúnia, brotou urtigão. Semeou artemísia, colheu estragão.
Enterrou azaléia, nasceu carapinha. Cultivou margarida, surgiu erva-daninha.
Rendeu-se.No jardim de seu verde abandono vieram as lagartas, roeram tudo o que podiam, depois sumiram.
O tempo exato passou e no silêncio de uma noite explodiram casulos dourados. O jardim foi tomado de borboletas, pequeninas e feiticeiras.
O sol nascia quando ele viu tantas cores, tantos vôos lépidos. No peito uma flor se abriu, uma flor sem nome, de cor viva e cheiro doce.
Foi daí que o milagre se deu: em cada cantinho de terra brotou amor-perfeito.

domingo, 17 de agosto de 2008

Soneto de Fidelidade

“Mania de fidelidade. Honra. O pai deveria saber que as mulheres assim agitadas não podem mesmo ser fiéis”

Ainda lembro da infância, tão cheia de regras de bom comportamento. Todas as poses e sutilezas que ela poderia ter sonhado entre seus ataques de loucura. Um amor de menino. Flores para as professoras a cada aniversário. Elogios às insignificâncias relevantes. Agradecimentos sorridentes, respeito aos mais velhos, aos mais altos, aos mais fracos. Perfeição e gravatas borboletas nos aniversários. Não sujar a roupinha, não brincar com os pobres, não falar com estranhos, não responder.
Tédio.
Até que percebi que se lhe herdei a pompa, também a loucura poderia me estar no sangue. Responder sim, afrontar sim, perturbar sim, quebrar as regras todas. Um moço rebelde, rebelde demais, perigoso até. Como foi mesmo que ele disse? “Uma criança brincando com cem bombas. Fique longe de mim. Você não sabe o poder que tem”.
Por esta época comecei a questionar, eu conseguiria ser fiel, quando me apaixonasse? Não.
Eu era intenso demais, uma aura rubra, tanto quanto a boca bem marcada. Aquele brilho nos olhos, de quem guarda mistérios e convida a descobri-los. Os gestos forçosamente naturais, os dedos que desenham arabescos no ar, teias de aranha. A voz rouca, inebriante, grossa, sedutora, escorrendo em cascata de arrepios. O conceito de que só o pecado conduz ao paraíso. Quem iria querer a maçã? Eu tinha tantas comigo. Seduzir era diversão, caçar, sagitariano, centauro arqueiro.
Sempre achei fidelidade um conceito um tanto relativo. Eu seria, decidi, fiel aos meus sentimentos. Isso implicava em satisfazer meus instintos e não renegá-los por uma regra de conduta social. Eram regras demais.
Irônico destino. Adivinhem: o amor nos faz fiéis. Perdi a aposta. Eu achei que não poderia mesmo ser fiel, agora sei que não sou capaz de ser infiel. Não por uma questão de regra.
Aqueles olhares, aqueles sorrisos, aquelas insinuações, tudo tão tedioso agora.
Ninguém mais é interessante.
Porque só você perdeu o chinelo no rio quando era pequena e ainda faz a mesma cara de emburrada. Só você sabe que sou viciado em descongestionante nasal e falo coisas inteligíveis depois de bocejar. Só você cabe exata no meu abraço e tem esse cheirinho sempre bom. Só você tem tamanha paixão por borboletas e ri das minhas caretas. Só você me vê chorando e ouve meus problemas. Só você escuta meus contos e palpita neles, antes mesmo de serem escritos. Só você sabe minha preferência em bebidas e só você ri daquele modo quando bebe. Só você conhece meu corpo, cada espaço de arrepios. Só você.
Amor, paixão, sexo, pele, química, cama. Tudo é tão perfeito e é só com você.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Post Confuso

“E eu, o que faço com esses números?”

Vocês ainda lembram o que é um post confuso? Meu Deus, tanto tempo... Será que alguma vez expliquei? Na verdade não importa mais. Quebras e eu tentando buscar em algum canto a vontade de consertar. Perfecionismo trabalhoso, então finjamos que está tudo bem. Pensando em expor as fotos, tantas belas que tirei. Mais uma das coisas que comecei sem terminar. Algum dia vou conseguir me fixar em alguma das minhas artes? Arte, eu amo a arte, através dela pulsa a vida e são tantas fotos para ver, tantos livros para ler, tantos filmes para assistir, tenho medo de não dar tempo. As histórias fervem, doem para serem escritas, mas sempre que começo algo se torna mais interessante... Engenheiros do Hawaii, novo vício. Voltaram as frases para os posts. Sem autoria. Não é falta de reconhecimento... Quero que pesquisem de quem são. As buscas levam a mais caminhos do que vocês podem supor. Surpreendente que alguém ainda venha aqui. Tanto sucesso no passado, quase como a atriz que matei. Tudo se repete. O mundo gira, mas nem todos percebem que o giro nos faz voltar ao mesmo lugar. Quero sair deste lugar. Papéis, não posso mais vê-los, mas é cômodo, eu sei que é. Reclamo, mas o que fiz no último mês para mudar alguma coisa? No último ano? Pensar enlouquece, então, deixemos pra depois.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Noites que passaram, noites que virão

“Esse meu rosto vermelho, molhado, é só dos olhos pra fora
Todo mundo sabe, que homem não chora”

O que eu senti ontem ainda não tem nome. Doeu, mas doeu tanto que parecia haver uma ave de asas pequenas se debatendo bem no meio do meu peito. E eu fiquei tão pequeno no escuro do quarto, como quando era criança e me colocavam de castigo. Fiz força pra não chorar, espremi algumas lágrimas no canto silencioso do olho direito. A vontade era de cair em prantos ruidosos, beirando à loucura. A vontade era de soluçar alto e perguntar o porquê de tudo isso. Mas todo mundo sabe, que homem não chora.
Deus é bom, ao menos quando nos faz fechar os olhos e adormecer de cansaço. Ficar acordado, pensando mais, teria me congelado a alma, talvez para sempre.
Eu me senti sozinho e havia uma tempestade no mar em volta. Meu porto, meu único porto, aquele que sempre desejo por entre a tormenta, estava agora tão difícil de encontrar. A caixa de Pandora se abriu e não havia dentro dela a esperança, minha fada risonha com ares de borboleta. Só libélulas negras com missão de devastar.
Senti vontade de sair. Ficar sozinho no escuro da noite, mas pela primeira vez em mais de dois anos eu não sabia pra onde ir. Porque sempre que tudo é mau é para você que vou, como naquela música:

When you're blue, when you're down
When the world makes you drown
Come to me, come to me
And together we'll run away
When the wind is blowing hard
And you don't know where to hang on
Hang on to me, hang on to me
And together we'll drift away
Away, away

Você não gosta dela, do ritmo dela. Mas a letra é tão linda que sempre me faz pensar em você. Na verdade todas as músicas me lembram você. De repente estou ali, tão cercado, tão acuado, tão sem chão. Hoje, longe, eu choro, escondido no banheiro. Quem vai secar minhas lágrimas? Ninguém. Depois de tanto tempo feliz, hoje eu só quero sangrar.
É difícil dizer o que mudou. O seu abraço ainda é meu conforto, sua pele ainda é meu bálsamo, seu beijo ainda me faz esquecer das desgraças do mundo. Talvez seus olhos, não consigo olhar seus olhos. Adivinho que eles estão tão tristes quanto os meus. Sei que sou culpado. Culpado por me sufocar nos dias, por deixar morrer em mim todo prazer de escrever.
Contos, histórias, sim, tenho escrito tudo isso. Mas meus sentimentos, há muito tempo são expressos por páginas em branco. Faltam as palavras, não existem adjetivos que se encaixem no estresse da vida.
Porém eu te amo, com um amor tranqüilo que me faz tão bem. Olhem os poemas de amor, dizia minha professora, todos eles são de amores não correspondidos. É mais fácil ao poeta expressar a dor. Hoje, eu que o diga.
Eu achei que estava tudo no lugar, todas as coisas na ordem tranqüila de um lago sereno. Abro os olhos, perdido no mar, não tenho pra quem ir. Tempestades, redemoinhos e eu só queria te fazer feliz. Eu te amo sem escrever, eu te amo de amar. Mas como dizem: “Não basta a Rainha ser honesta. É preciso parecer honesta”. Talvez ao poeta ocorra o mesmo, não basta amar, é preciso cantar o amor em prosa e verso.
E logo quando eu disse "Amo tu. Não via a hora de poder chegar aqui, deitar abraçado contigo". Sua resposta foi um golpe tão grande, foi nesse momento que doeu tanto... Eu compreendi aquele homem que disse no filme "O melhor presente é nunca ter nascido". Não chore se ler isso. Eu já disse que me odeio quando te faço chorar. Eu preciso colocar pra fora tudo que ainda machuca.
Assim como falei ontem, eu ainda não sei o que dizer. Há impotência diante da vida. Diante dos atos.
Queria encontrar você, no meio do dia, com flores nos braços. Correr, dar um abraço. Queria jurar que tudo passou, que a chuva parou. No entanto, isso é tão típico dos hipócritas que devem. A mesma cena deve repetir-se em diversos canais da vida urbana. Todos os dias, maridos infiéis a pedir perdão.
Nunca te trai, nunca abracei ninguém como abraço você, nunca beijei outra boca, nunca amei de verdade, como amo você. Eu já disse tudo isso antes. Não quero as flores, não quero perdas e não quero perdões.
Se eu vou voltar esta noite? Nem sei se tenho para onde voltar. Ontem me senti um estranho deitado na sua cama. Tive vontade de pedir se eu podia dormir ali. Não sei. Talvez você não quisesse. Todas as coisas que disse ainda ecoam aqui, sem que eu saiba se são suposições sobre os meus sentimentos ou expressões dos seus. Eu amo dormir contigo, fico mais à vontade no teu quarto que no meu. Mas quem me convidou para dormir toda noite ali? Fui indo e ficando. Talvez tenha invadido seu espaço, talvez eu já não tenha a mesma graça. É, eu sou mesmo meio monótono e cansativo... Se for isso eu prometo que entendo.
Se vou voltar esta noite? Eu tenho medo até de ir pra minha casa. Sei que é possível que ao ver minha mãe eu precise dela para abraçar, para chorar. Chego a desejar sua mão de unhas compridas passando no meu cabelo. Há quanto tempo eu não tenho sido um bom filho? Queria o colo dela, mas ao mesmo tempo não quero todas as perguntas que ela vai fazer, não quero dizer o que aconteceu, não quero ela com pena de mim, não quero ela ligando pra você, tentando outra vez consertar tudo. Eu só queria chorar quieto. Trabalho com as letras embaralhadas nos relatórios, números que borram, mas agradeço aos que estão em volta por fingirem não perceber meus olhos vermelhos e meu rosto molhado. Eu preciso ser bem mais forte que eu. Imagino que você não deva estar muito diferente e é isso que mais dói.
Se eu vou voltar esta noite? Há uma vontade tão grande de ficar na outra cidade, tão fria, perdido. Porque ontem eu esperei você me xingar, dizer que eu tinha pouca roupa. E eu iria mentir que estava com calor, apesar do frio que passei, mas você não falou nada. Até então não importava. Você não notou, mas deixou a cama quente pra mim. E te abraçar foi a melhor hora do dia, até eu dizer que te amava e você responder tanta coisa diferente. Eu queria ter a coragem de fugir, por uma noite e um dia, que fosse. No entanto, não quero ver você culpada, não quero deixar meus pais preocupados, não posso faltar ao trabalho. Sou um bom menino, quase sempre. Sou responsável, melhor seria se eu fosse inconseqüente. Porque eu preciso de uma noite sozinho, vagando na rua. Preciso me impregnar de autocomiseração. Ser vítima longe do mundo, ser fraco longe da tua cama. Poder chorar, só por chorar, poder me castigar com uma insônia forçada, poder me cortar nas frestas do vento. Quero me perder em outros caminhos, desesperar sem encontrar testemunhas. E depois?
Depois seria voltar, dar tantas explicações, forçar uma redenção através da preocupação com aquele que fugiu de si mesmo. Não suporto a idéia.
Ah, mas chega de choro. Por favor, não me ligue tendo pena de mim. Não chore comigo, também não finja que nada mudou. Só acredite, pelo menos uma vez, quando digo que te amo.
Se eu vou voltar esta noite? Por Deus, eu não sei o que fazer esta noite.

“Quem sabe eu volte cedo, ou não volte mais”

domingo, 10 de agosto de 2008

De Clarissa

"Há sempre alguma coisa que a gente não consegue entender"

Ela não é daqui. Não pode ser. Ela tem vontades muito estranhas. Vontade de ficar sentada no ônibus e mandar que o motorista siga até acabarem todas as estradas. Tinha dias que queria voar no vento. Mal sabia que pelo modo como olhava o céu, já não estava há muito no chão. Queria aprender a tocar flauta de caniço, sua música parecia brotar da natureza em perturbá-la. Um dia desejou morar em uma cabana no meio do mato, noutro em um castelo de cem torres. Ela era estranha porque sabia que aquela pedra era mais que ela. Um dia seu corpo viraria folhas, insetos e toda sorte de coisas que sobrevém da morte, porém a pedra ainda estaria ali. Às vezes tem vontade de correr na chuva, brincar nas poças d’água.
Ah, e tem momentos que ela, mesmo sem motivo, sente uma vontade louca de gargalhar. Ela é louca. Ela se pergunta como embalam os chocolates. Quem teria tocado naquela carta do banco para colocá-la no envelope. Cada vez que via arco-íris queria ir até o fim dele, só para ver que coisas acontecem lá. Já sentiu vontade de beijar desconhecidos, e de deixar um dos seus sanduíches para a empregada, mas ela não é tão boa e caridosa assim. Queria voltar ao passado: sabe que toda sua vida mudaria se, no momento em que Guilhermina deu-lhe um tapa na cara, ainda no jardim de infância, se ela tivesse revidado ao invés de chorar...
Sempre tem vontade de dançar, mas sempre tem vergonha também. Há dias em que quer ser mãe, noutros queria ser solteira. Já teve vontade de beijar a vidente, Mariana, que tem os olhos de água marinha, na boca. Ah, Clarissa... Ela definitivamente, não é daqui. Tem dias em que, apesar de eu ser pouco mais que um sonho longínquo, Clarissa me ama.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Há vida inteligente na Terra?

“O problema é que as pessoas constroem muro ao invés de pontes”

Seres humanos são animas sociais, portanto toda forma de isolamento deveria ser encarada como distúrbio. A mais nova “forma de isolamento” é composta de MP3, MP4 e Ipods. A barreira agora é acústica. O movimento desses pequenos isoladores é crescente em ambientes onde o convívio é inevitável e prolongado. Exemplo: Ônibus que vai para a faculdade. São três horas de viagem, com outras 40 pessoas.
Imaginem, com um contingente humano tão variado e tendo este tempo todo de “bobeira” quantas conversas frutíferas poderiam surgir se não quiséssemos todos desfrutar de nosso “ambiente musical particular”. O que estes aparelhinhos fazem é criar um universo paralelo, todo nosso. É ligar o seu som preferido, fechar os olhos e esquecer de tudo mais...
Texto um tanto “politicamente correto” hoje, não? É, mas eu não sou assim.
Estou esperando chegar o meu isolador acústico que comprei pela net. Sim, era isso ou cianureto. Pense só do que eu já poderia ter poupado meus ouvidos...
Sim, 40 pessoas ou mais, das quais umas 5 você vai com a cara... Fofocas, intrigas, tudo mais de uma novela mexicana pastelão. Onde mais você poderia ouvir pérolas assim:
Do Conviver, senhor que ninguém avisou ainda que já passou dos 20 anos (no mínimo umas três vezes) e ainda fica com a ‘galera’: “Não, essa água lá fora não é chuva... O ônibus suou de vir correndo...”
MP3 nele!
Do Reviver, senhor que tem consciência de que está na terceira idade, por isso iguala-se ao capeta para ser bem recebido no inferno: (voz de tocador de porco): “VAAAAAAMBORA!!!! Tão esperando quem? Mas pelamordedeus, não sabe que a hora de sair é 17h50min? Por favor já é 51min. VAAAAAAMBORAAA! Puta merda!”
MP4 nele.
Da menina loira que acredita ser uma reencarnação da Barbie e pensa que tudo em volta é cor-de-rosa. Enquanto conversava com a morena com QI considerado abaixo de qualquer forma humana conhecida:
“Ai, amiga, eu me sinto nua sem uma escova de cabelo...”
Ipod nela!
Ah, minhas crianças, não construam muros. Construam MURALHAS!
Até porque, com quem vale realmente a pena conversar você divide seu MP..., canta junto e fala alto o suficiente para haver comunicação...

Escrito em 21/08/2007
Agora dedicado à Lidi.
Sinceramente? Foi a melhor compra que já fiz.