segunda-feira, 8 de março de 2010

O aprendizado de Clarissa

Observando os ratos, Clarissa pôs-se a aprender com eles. Eles eram assim: usavam a máscara fajuta da humildade enquanto agradeciam às migalhas dadas ao sol do dia. Na imensidão da noite, porém, despiam-se de escrúpulos e seus olhos brilhavam vivos quando roubavam o que bem entendiam.

A humildade era, pois, só a capa de que se valiam os roedores, representando não fazer frente a qualquer gente. Minúsculos ratilhos, diriam os de corações despreparados. Serezinhos de olhos grandes e pidões, a implorar um restinho qualquer de pão embolorado. Por uma migalha se colocavam trigueiros, gratos imensamente, fugindo para um buraco escuro esconder tão imenso tesouro.

Balela. Tão logo longe dos olhos, os ratos deitam a migalha fora. Eles esperam com paciências mornas que o sol se ponha, que as pessoas deitem, que os gatos durmam. Quando tudo é silêncio e a calma na casa impera, patas pequeninas cruzam silentes o assoalho. À noite os ratos roubam o queijo, mergulham no leite, roem as maçãs mais vermelhas e se deliciam loucamente nos doces de mandarin.

À noite eles servem-se do que querem, porque à noite eles são reis. Impecável a majestade dos ratos que de tão humildes se fazem cães. De tão espertos se fazem gatos. Mendigos e Reis. Servos e larápios. Isso Clarissa, continue a aprender com os ratos.

Um comentário:

  1. E se de dia, são dignos quase de pena, de noite causam o medo - quando decidem ser eles mesmos, sem as tais máscaras...

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