Eu imagino que um Mestre deve escrever com rebuscamento e polidez. Qualquer coisa assim prolixa, que necessite ser decifrada e lentamente digerida. Seu texto precisa ser sério, científico e, preferencialmente, bem embasado. Palavras exatas, lugares medidos, tudo perfeito a fim de demonstrar eficiência e saber.
Eu imagino que um professor deve escrever com cuidado e correção. Qualquer coisa assim polida, seguindo modelos iniciados por um “tópico frasal” e terminados por uma fina conclusão. Seu texto precisa, invariavelmente, obedecer a cada regra, cada disposição gramatical, sem esquecer uma ênclise sequer. Preposições bem alocadas, palavras cultas e na medida, além de alguns poucos usos do ponto e vírgula.
Eu imagino que um escritor deve escrever com seriedade e perfeição. Qualquer coisa assim criativa, apresentando uma opinião e um ângulo novo para se observar. Seu texto precisa ser acessível ao mesmo tempo em que rebuscado. Uma vitrine da sua cultura e de seu refinamento, demonstração da inteligência dos costumes e da habilidade com as letras.
Eu imagino que um poeta deve escrever com criatividade e coração. Qualquer coisa assim bonita, rimada e aliterante, que embale em música o ritmo das palavras e os sentimentos do leitor. Seu texto precisa ser claro e simples, tocante e melódico. Versos metrificados, rimas ricas e sentimentos escaldantes.
Eu imagino que, pensando em tudo isso, eu chegue a uma conclusão inusitada:
Nem sou mestre, nem professor, nem escritor, nem poeta, nem sou nada.
Mas escrevo, escrevo e para mim a escrita é tudo.
De agora em diante, risco meus rótulos.
De meu, só fica o nome.
Ou nem isso.
V.
Ótimo!
ResponderExcluirMe causaste perturbação com este texto, como quase sempre...
Bom, pelo menos posso reforçar um pouco mais minha desconfiança de que "não sou nada", como tu bem disseste... Isso é ao mesmo tempo triste e libertador.
Se for olhar por este lado, eu também não sou nada. Escrevi uma poesia hoje. Terrível! Rimas extremamente pobres e totalmente previsíveis.
ResponderExcluirescrevamos, então. para além de como "devemos" escrever, escrevamos...
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