Quando por conta, já estava no carpete roxo. Não sei. Não mãe, não outros, só os gigantes de falar nhénhénhén. Cheira leite. Parece leite. Tem gosto leite. Não tem leite. É um disco frio. Dizem bebe, gatinho. De fome eu bebo. De pura fome. Queria mãe.
Cresço e fico porque me passam a mão de quando em vez. Durmo deitado no sentador. Ouço a chuva e a vejo da janela sempre. Deito no sol, lambo as patas e fico, vou ficando.
Do pacote saem carnes e legumes e peixes e vegetais, tudo em pedacinhos secos. Os pacotes saem das sacolas de quando eles saem de casa. São bons. Eu entendo. Entendo e fico.
Depois veio ele. Injeção na coxa. Tentei dizer que.
Quando acordo não sou o mesmo. Fico.
Fico. Fico. Fico. Bem comum, eu fico.
Mas um dia eu noto as unhas debaixo das patas minhas. Fofinhas as patas. O menino sempre brinca com elas. Dentro das patas tem unhas. É só apertar que elas saem pra fora. Afiadas elas.
Tento nas árvores. Esticadinho eu as afio. As unhas. É bom arranhar os troncos. Tirar as lascas, sentir tração. Força.
Tento nas árvores. Esticadinho eu as afio. As unhas. É bom arranhar os troncos. Tirar as lascas, sentir tração. Força.
As patas cada vez fortes mais. Eu posso. Logo logo logo eu posso. Eu posso passar a cerca, pular os jardins pra além dos muros, subir e descer e depois tropeçar no mundo. Não é assim. Do jeito todo, não fico mais. Por enquanto fico. Mas depois, eu é que não fico mais. E quando desficar, não volto. Nunca mais gatinho vermelhinho de lacinho pescocinho. Nunca mais.
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