segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Detefon, almofada e trato

Quando por conta, já estava no carpete roxo. Não sei. Não mãe, não outros, só os gigantes de falar nhénhénhén. Cheira leite. Parece leite. Tem gosto leite. Não tem leite. É um disco frio. Dizem bebe, gatinho. De fome eu bebo. De pura fome. Queria mãe.

Cresço e fico porque me passam a mão de quando em vez. Durmo deitado no sentador. Ouço a chuva e a vejo da janela sempre. Deito no sol, lambo as patas e fico, vou ficando.

Do pacote saem carnes e legumes e peixes e vegetais, tudo em pedacinhos secos. Os pacotes saem das sacolas de quando eles saem de casa. São bons. Eu entendo. Entendo e fico.

Depois veio ele. Injeção na coxa. Tentei dizer que.

Quando acordo não sou o mesmo. Fico.

Fico. Fico. Fico. Bem comum, eu fico.

Mas um dia eu noto as unhas debaixo das patas minhas. Fofinhas as patas. O menino sempre brinca com elas. Dentro das patas tem unhas. É só apertar que elas saem pra fora. Afiadas elas.

Tento nas árvores. Esticadinho eu as afio. As unhas. É bom arranhar os troncos. Tirar as lascas, sentir tração. Força.

As patas cada vez fortes mais. Eu posso. Logo logo logo eu posso. Eu posso passar a cerca, pular os jardins pra além dos muros, subir e descer e depois tropeçar no mundo. Não é assim. Do jeito todo, não fico mais. Por enquanto fico. Mas depois, eu é que não fico mais. E quando desficar, não volto. Nunca mais gatinho vermelhinho de lacinho pescocinho. Nunca mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.