Os diários de repente se enchem, transbordam, pingam no tapete e estragam os fios grossos do tramado azul. As coisas já não cabem só nas páginas, elas se infiltram no assoalho e apodrecem o porão de terra. Meu nome já escorre em toda parte, evaporando com o calor e mofando as paredes do quarto, apodrecendo a madeira branca e desenhando raízes no teto.
Minhas verdades se liquefazem e descem visguentas fazendo manchas no piso - cuidado para não pisar nelas quando você chegar. As tintas se soltam e, como benção, minhas letras podem se diluir e enfim livrarem-se do eterno. O papel se pinta em cores, feito obra abstrata. Só quem chegar bem perto poderá ver que ficaram cicatrizes - e perdão por isso; eu sempre escrevi forte.
As agendas, as páginas finais dos cadernos, os guardanapos, os cartões, os bilhetes, aquele crachá de papel cartão, tudo perde o que foi por mim escrito. Tudo se esvazia, tudo se solta, tudo se desfaz para ter algum alívio. Para poder se livrar, enfim, de mim.
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