segunda-feira, 29 de março de 2010

Bendita

Sobre a estante de Benedita há três santas de gesso e uma madona de prata. No meio de todas elas, arde uma vela pensante. O milagre está em vias de ser solicitado, sem muitas burocracias, só com uma frase rápida a la virgen de Guadalupe. Que, aliás, nem está entre as imagens das santas européias.

Benedita cruza os dedos grossos e reza baixinho, implorando na prece por resultado favorável. Reza com zelo, com terço e sem esperança. Mas é que não custa arriscar.

As santas bebem a vela, vermelhas e afogueadas pela luz no quarto escuro. As sombras dança na parede de cupins, as imagens balançam cada vez que passa um caminhão. O quarto esquenta e a chama arde lenta.

Benedita se deita, a madona se deleita. Nunca antes recebeu vela nem oração. Pensa na tal Guadalupe, não conhece não. Enfadadas as santas nem entenderam o que a velha disse. De qualquer modo, mandam agradecer a vela quando toda queimada e prometem, se virem a tal Guadalupe, elas darão o recado. Pode confiar. No mais riem soltas, bêbadas de luz e prece.

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